Preconceito linguístico: jornal contra o “ain’t”
Essas
polêmicas inevitavelmente iriam desaguar no colo dos editores de
dicionários. Que posição deveriam tomar? Deveriam seguir as normas
ditadas, ou simplesmente descrever, sem tomar partido, como a língua é
usada na realidade? Um dos melhores exemplos da escola descritiva é a
edição de 1961 do Webster’s Third New International Dictionary
cujo editor, Philip Gove, era da opinião de que distinções no uso da
língua eram artificiais e elitistas. O resultado foi a inclusão de
muitas palavras e expressões que os “guardiões” desaprovavam.
Provavelmente o que causou o maior escândalo foi a inclusão da palavra ain’t (contração de am not, is not, are not, ou até mesmo has not e have not) com a observação de que é usada em muitas partes dos Estados Unidos. Um bom exemplo encontra-se no primeiro filme falado, The Jazz Singer,
de 1927, em que o cantor Al Jolson declarava, na maior alegria: “You
ain’t heard nothin’ yet” (Vocês ainda não ouviram nada). Para desespero
dos puristas, a frase estava toda errada (além da palavra ain’t, ela continha uma dupla negativa e deveria ser “You haven’t heard anything yet”), mas refletia o inglês de muitos na plateia.
Em The Story of Language, Mario Pei comenta o fato de que ain’t
tornou-se comum na época do Rei Charles II, isto é, há uns 300 anos,
mas não se sabe bem quando os “guardiões” a declararam “ilegal”.
Ninguém duvida que a frase ain’t I é muito mais fácil de pronunciar do que aren’t I ou amn’t I e soa muito mais natural do que am I not.
O texto acima faz parte do livro Once Upon a Time um Inglês… A história, os truques e os tiques do idioma mais falado do planeta escrito por John D. Godinho.
Fonte: Inglês no Supermercado
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